Será o Treino Proprioceptivo importante?
A resposta direta é sim. E é sim porque desempenha um importante papel naquilo que é a estabilidade articular e prevenção de lesão. Os inputs proprioceptivos são transmitidos a diferentes níveis do sistema nervoso, embora muitos a nível inconsciente. O sentido de posicionamento e de movimento articular são a expressão consciente, já o posicionamento postural é maioritariamente uma componente inconsciente. O controlo proprioceptivo é a definido pela eficácia dos reflexos responsáveis pela estabilidade vertical. Para potenciar o treino proprioceptivo podemos muitas vezes minimizar a contribuição da visão e do sistema vestibular.
Aquilo que muitas vezes se conhece por treino de equilíbrio ou treino neuromuscular, é muitas vezes, treino proprioceptivo. É assim, porque o exercício requer a gestão de algum tipo de instabilidade.
Que resultados práticos posso eu ter em realizar este tipo de treino?
Estudos realizados com atletas que foram seguidos ao longo de várias épocas, relatam diminuições significativas de lesões do tornozelo ou do joelho (como entorses), que podem chegar, em alguns estudos, aos 81% no primeiro exemplo, ou a 64.5% no caso do joelho. O interessante perceber é que tal redução do risco de lesão acontece não só em contexto de treino, mas também em contexto de jogo. Outra das condições que aparentam beneficiar deste tipo de treino, são, curiosamente, as lombalgias.
Mas como é que este tipo de treino pode ter tal impacto?
Julga-se que haverá dois mecanismos que acabam por ser complementares na redução da frequência destas lesões. O primeiro tem que ver com a melhoria do controlo proprioceptivo que influencia a melhoria do controlo do movimento realizado, nomeadamente da gestão do salto e controlo da trajetória de receção ao solo, minimizando o stress aplicado nos membros inferiores e coluna. Outra das razões é a diminuição do tempo de latência dos músculos durante este tipo de treino, quer isto dizer que conseguem contrair mais rapidamente, fazendo com que consigam lidar melhor com situações esperadas e não esperadas. O próprio aumento da força de alguns grupos musculares como os da perna, fazem com que a posição do pé melhore, aumentando também o potencial de proteção em movimentos típicos da entorse. O segundo mecanismo prende-se com o efeito cumulativo das forças de tração que são aplicadas milhares de vezes a estruturas como ligamentos e capsulas articulares aumentando a sua resiliência ao stress, aumentado também a sua ação protetora quando os músculos falham por alguma razão.
Facto curioso. Existe uma grande quantidade de atletas que são submetidos a treino de propriocepção e que deixam de sentir necessidade de usar ligaduras ou ortóteses (conhecidos commumente como pés elásticos). Quando questionados o porquê dessa mudança, respondem que sentiram maior estabilidade no movimento e melhoria no controlo do movimento.